Ficha Técnica:
Título: A Ordem dos Arquivistas
Autor: Ricardo Sodré Andrade
Edição: #1
Ano: 2012
Páginas: 144
Editora: Literata (atualmente, 9Bravos)
Nota: 3/5
O autor deste livro, faz parte do grupo de pesquisa do qual faço parte na faculdade, no entanto, hoje em dia, ele faz doutorado em Portugal e não o conheço pessoalmente. Mas de tanto ouvir falar no livro dele, fiquei curiosa e pedi o exemplar do meu orientador emprestado.
Primeira coisa a me chamar atenção: A CAPA MARAVILHOSA!!! Sim, é de encher os olhos a arte da capa, muitos dizem pra não julgar o livro por ela mas sempre acabo sendo inevitavelmente atraída.
O tema é bem original, apesar de se tornar clichê no final.
Creio que o livro deveria estar para Arquivologia assim como O Caso dos Exploradores de Cavernas está para Direito; claro, que sem a pitada de magia de A Ordem dos Arquivistas, ou a leitura fácil. 😀
“Quando eu era criança, eu aprendi a andar, cantar, ler e escrever. Ouvi muitas histórias dos bardos e minha imaginação tinha asas fortes, naquela época que tudo era feito de ouro e reluzia”(Eli, sobre si mesmo, p.8)
A história é bem básica: Um cara (Eli) que vai atrás do tio desaparecido que parou de mandar cartas para a família e tenta desvendar o mistério do seu desaparecimento. para isso viaja pela Estrada de Sal, de Sanmaric (cidade natal de Eli) até a região do vale onde fica a grande Fortaleza da Ordem dos Arquivistas, ou simplesmente O Arquivo, ou ainda, “O Castelo” como as pessoas da vila do vale chamavam a grande construção erguida entre montanhas e muralhas. Além de uma viagem para Astoril, ganhamos também uma viagem pelo mundo da Arquivologia! Ricardo Sodré Andrade nos dá ao longo da obra, uma noção básica de Arquivística, como, por exemplo, que o clima frio do vale, a baixa temperatura e umidade, são condições para a boa preservação dos documentos guardados ali.
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Aí você, humilde leitor desta resenha me pergunta: O quê uma estudante de direito quer tanto falar de arquivologia? Resposta muito simples: Arquivologia cai em concurso. 😀
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“No Arquivo, os membro da Ordem dos Arquivistas possuíam a tarefa de registrar, autenticar, transcrever, armazenar, conservar e até mesmo descartar documentos produzidos no reino. Não era uma mera biblioteca de compêndios de conhecimento e tratados de história; ela possuía a própria matéria prima das histórias: os registros dos atos dos governantes, das pessoas, e das instituições que existiam ou um dia existiram em Astoril e atuavam nas terras que circundavam o vale, incluindo a capital” (p.10)
No entanto, a caracterização de que mais gostei, foi a da loja de escrita, no final do capítulo 3 e capítulo 4.
Podemos perceber um certo etnocentrismo involuntário ao chegar a página 29 quando Eli diz:
“Era uma aconchegante casa de um estilo colonial típico de algumas regiões frias do reino”
O quê é o estilo colonial de Astoril? O autor deveria escrever isso para não cair na armadilha do etnocentrismo e do relativismo cultural, sem querer, sempre caímos. Mesmo assim, continuo gostando da descrição:
“A porta possuía detalhes cuidadosamente entalhados, com pequenos e opacos quadrados de vidro, compondo um quadrilátero maior que deixaria entrar alguma luz, sem permitir a visão por meio dele […] deslizei para dentro da casa, abaixando um pouco a cabeça para não bater no batente da porta, que era mais baixo que eu. Eu não era alto, a casa é que parecia ser numa escala levemente reduzida.
Assim que entrei, verifiquei que o lugar era muito bem iluminado com lamparinas e boas janelas de vidro, bem feitas e bem instaladas. Havia uma lareira apagada do lado direito da sala.
Havia muitas estantes com livros por todo o lado e não pareciam ser para venda. Talvez para que os clientes pudessem ler. Algumas poltronas com estofado vermelho e detalhes brancos. Aliás, essas eram as cores predominantes na decoração” (Eli, p.31)
Durante a leitura, me imaginei sentada nessa cadeira, sendo atendida pela “pequena senhora”, e escrevendo com pena e tinta de Raduim, no papel que saía fresquinho do Arquivo.
A pequena senhora da loja me lembrou a Pinako Rockbell, avó da Winry Rockbell, do anime FullMetal Alchemist.
Não nos esqueçamos: a estória se passa em um tempo medieval num mundo fictício criado pelo autor.
Game Of Thrones? Sim, foi o que primeiro me veio a cabeça quando li:
“Se o rei enviar um decreto real ao governante de Sanmaric, esse decreto estará cumprindo o ciclo corrente até que o prefeito leia e tome as providências solicitadas por Elodim, terceiro de seu nome“(Lucca para Eli, p.101, grifo nosso)
O autor cria todo um clima de suspense… e isso me matou durante a leitura!
Porque, infelizmente falta dinâmica no texto, as coisas demoram muito para acontecer. O que seria uma cronologia normal para o dia a dia, extremamente racional, torna-se uma brincadeira para a concentração de leitores ansiosos, como eu.
Achei que a mitologia da história, apesar de simples, foi muito bem criada e a narrativa em primeira pessoa contribuiu para um bom livro, os olhos cinzas, míticos de Pardes, a ilha de Chaburim, e contos e lendas temperam o desenrolar da história pouco a pouco. O protagonista, Eli Saridem, mostra-se uma pessoa ponderada, racional, inteligente e com mania de coçar o pescoço quando se sente desconfortável, não é apenas um detentor de olhos cinzas.
O coadjuvante Lucca, tem toda a minha simpatia, provando que o autor sabe construir personagens diferentes. Confesso que me senti aliviada quando ele apareceu pra dar uma quebrada na seriedade do livro, que estava afligindo todas as minhas células com aquele suspense interminável.
***ATENÇÃO, Spoiler a seguir***
Eu receberia muito bem se houvesse uma continuação de A Ordem dos Arquivistas, tratando da vida de Eli no Arquivo e outros mistérios de Astoril e do continente de Herma. O autor tem muito o que explorar nesse universo cativante que criou, e seria um desperdício, na minha humilde opinião, parar por aqui.
***FIM dos Spoilers***
A Ordem dos Arquivistas é um livro curtinho, suas 144 páginas podem ser lidas em pouquíssimo tempo se você não for um leitor desleixado como a pessoa que vos fala, e se não se importar com as letras minúsculas, que francamente me irritaram bastante, pois sou uma míope bem míope, com agravante de astigmatismo e algumas dores de cabeça eventuais quando esforço a visão.
Comparação do tamanho das fontes entre Sangue dos Deuses e A Ordem dos Arquivistas
Tirando essa parte de meus problemas pessoais, a obra tem uma revisão impecável, não consegui encontrar nenhum erro de português… [apenas “ideia” com acento – “idéia”- porém ainda estávamos em período de transição e adaptação para o novo acordo ortográfico, portanto perdoável, e um ou dois parágrafos fora do lugar, mas como o meu exemplar é a primeira edição, posso continuar dizendo que é “impecável”… 😀 ]
As páginas são amarelas, pendendo para levemente esverdeado; as letras do títulos dos capítulos são personalizadas e há ilustrações no final dos capítulos, mas como já disse na resenha de Sangue dos Deuses, não sei se isso é bom ou ruim
Ilustração de Durko, o cavalo de Eli Saridem.
A Ordem dos Arquivistas na Internet:
SKOOB – A Ordem dos Arquivistas
O Autor:
Ricardo Sodré Andrade é Bacharel em Arquivologia pelo Instituto de Ciência da Informação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), mestre em Ciência da Informação (PPGCI/UFBA), doutorando em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais (UPorto e UAveiro) e Arquivista da UFBA.