Roendo #3: A Ordem dos Arquivistas: Centésimo – Ricardo Sodré Andrade

Ficha Técnica:

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Título: A Ordem dos Arquivistas

Autor: Ricardo Sodré Andrade

Edição: #1

Ano: 2012

Páginas: 144

Editora: Literata (atualmente, 9Bravos)

Nota: 3/5

 

O autor deste livro, faz parte do grupo de pesquisa do qual faço parte na faculdade, no entanto, hoje em dia, ele faz doutorado em Portugal e não o conheço pessoalmente. Mas de tanto ouvir falar no livro dele, fiquei curiosa e pedi o exemplar do meu orientador emprestado.

Primeira coisa a me chamar atenção: A CAPA MARAVILHOSA!!! Sim, é de encher os olhos a arte da capa, muitos dizem pra não julgar o livro por ela mas sempre acabo sendo inevitavelmente atraída.

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O tema é bem original, apesar de se tornar clichê no final.

Creio que o livro deveria estar para Arquivologia assim como O Caso dos Exploradores de Cavernas está para Direito; claro, que sem a pitada de magia de A Ordem dos Arquivistas, ou a leitura fácil. 😀

“Quando eu era criança, eu aprendi a andar, cantar, ler e escrever. Ouvi muitas histórias dos bardos e minha imaginação tinha asas fortes, naquela época que tudo era feito de ouro e reluzia”(Eli, sobre si mesmo, p.8)

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A história é bem básica: Um cara (Eli) que vai atrás do tio desaparecido que parou de mandar cartas para a família e tenta desvendar o mistério do seu desaparecimento. para isso viaja pela Estrada de Sal, de Sanmaric (cidade natal de Eli) até a região do vale onde fica a grande Fortaleza da Ordem dos Arquivistas, ou simplesmente O Arquivo, ou ainda, “O Castelo” como as pessoas da vila do vale chamavam a grande construção erguida entre montanhas e muralhas. Além de uma viagem para Astoril, ganhamos também uma viagem pelo mundo da Arquivologia! Ricardo Sodré Andrade nos dá ao longo da obra, uma noção básica de Arquivística, como, por exemplo, que o clima frio do vale, a baixa temperatura e umidade, são condições para a boa preservação dos documentos guardados ali.

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Aí você, humilde leitor desta resenha me pergunta: O quê uma estudante de direito quer tanto falar de arquivologia? Resposta muito simples: Arquivologia cai em concurso. 😀

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“No Arquivo, os membro da Ordem dos Arquivistas possuíam a tarefa de registrar, autenticar, transcrever, armazenar, conservar e até mesmo descartar documentos produzidos no reino. Não era uma mera biblioteca de compêndios de conhecimento e tratados de história; ela possuía a própria matéria prima das histórias: os registros dos atos dos governantes, das pessoas, e das instituições que existiam ou um dia existiram em Astoril e atuavam nas terras que circundavam o vale, incluindo a capital” (p.10)

No entanto, a caracterização de que mais gostei, foi a da loja de escrita, no final do capítulo 3 e capítulo 4.

Podemos perceber um certo etnocentrismo involuntário ao chegar a página 29 quando Eli diz:

“Era uma aconchegante casa de um estilo colonial típico de algumas regiões frias do reino”

O quê é o estilo colonial de Astoril? O autor deveria escrever isso para não cair na armadilha do etnocentrismo e do relativismo cultural, sem querer, sempre caímos. Mesmo assim, continuo gostando da descrição:

“A porta possuía detalhes cuidadosamente entalhados, com pequenos e opacos quadrados de vidro, compondo um quadrilátero maior que deixaria entrar alguma luz, sem permitir a visão por meio dele […] deslizei para dentro da casa, abaixando um pouco a cabeça para não bater no batente da porta, que era mais baixo que eu. Eu não era alto, a casa é que parecia ser numa escala levemente reduzida.

Assim que entrei, verifiquei que o lugar era muito bem iluminado com lamparinas e boas janelas de vidro, bem feitas e bem instaladas. Havia uma lareira apagada do lado direito da sala.

Havia muitas estantes com livros por todo o lado e não pareciam ser para venda. Talvez para que os clientes pudessem ler. Algumas poltronas com estofado vermelho e detalhes brancos.  Aliás, essas eram as cores predominantes na decoração” (Eli, p.31)

Durante a leitura, me imaginei sentada nessa cadeira, sendo atendida pela “pequena senhora”, e escrevendo com pena e tinta de Raduim, no papel que saía fresquinho do Arquivo.

A pequena senhora da loja me lembrou a Pinako Rockbell, avó da Winry Rockbell, do anime FullMetal Alchemist.

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Não nos esqueçamos: a estória se passa em um tempo medieval num mundo fictício criado pelo autor.

Game Of Thrones? Sim, foi o que primeiro me veio a cabeça quando li:

“Se o rei enviar um decreto real ao governante de Sanmaric, esse decreto estará cumprindo o ciclo corrente até que o prefeito leia e tome as providências solicitadas por Elodim, terceiro de seu nome“(Lucca para Eli, p.101, grifo nosso)

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O autor cria todo um clima de suspense… e isso me matou durante a leitura!

Porque, infelizmente falta dinâmica no texto, as coisas demoram muito para acontecer. O que seria uma cronologia normal para o dia a dia, extremamente racional, torna-se uma brincadeira para a concentração de leitores ansiosos, como eu.

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Achei que a mitologia da história, apesar de simples, foi muito bem criada e a narrativa em primeira pessoa contribuiu para um bom livro, os olhos cinzas, míticos de Pardes, a ilha de Chaburim, e contos e lendas temperam o desenrolar da história pouco a pouco. O protagonista, Eli Saridem, mostra-se uma pessoa ponderada, racional, inteligente e com mania de coçar o pescoço quando se sente desconfortável, não é apenas um detentor de olhos cinzas.

O coadjuvante Lucca, tem toda a minha simpatia, provando que o autor sabe construir personagens diferentes. Confesso que me senti aliviada quando ele apareceu pra dar uma quebrada na seriedade do livro, que estava afligindo todas as minhas células com aquele suspense interminável.

***ATENÇÃO, Spoiler a seguir***

Eu receberia muito bem se houvesse uma continuação de A Ordem dos Arquivistas, tratando da vida de Eli no Arquivo e outros mistérios de Astoril e do continente de Herma. O autor tem muito o que explorar nesse universo cativante que criou, e seria um desperdício, na minha humilde opinião, parar por aqui.

***FIM dos Spoilers***

A Ordem dos Arquivistas é um livro curtinho, suas 144 páginas podem ser lidas em pouquíssimo tempo se você não for um leitor desleixado como a pessoa que vos fala, e se não se importar com as letras minúsculas, que francamente me irritaram bastante, pois sou uma míope bem míope, com agravante de astigmatismo e algumas dores de cabeça eventuais quando esforço a visão.

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Comparação do tamanho das fontes entre Sangue dos Deuses e A Ordem dos Arquivistas

Tirando essa parte de meus problemas pessoais, a obra tem uma revisão impecável, não consegui encontrar nenhum erro de português… [apenas “ideia” com acento – “idéia”- porém ainda estávamos em período de transição e adaptação para o novo acordo ortográfico, portanto perdoável, e um ou dois parágrafos fora do lugar, mas como o meu exemplar é a primeira edição, posso continuar dizendo que é “impecável”… 😀 ]

As páginas são amarelas, pendendo para levemente esverdeado; as letras do títulos dos capítulos são personalizadas e há ilustrações no final dos capítulos, mas como já disse na resenha de Sangue dos Deuses, não sei se isso é bom ou ruim :/

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Ilustração de Durko, o cavalo de Eli Saridem.

 

A Ordem dos Arquivistas na Internet:

SKOOB – A Ordem dos Arquivistas

FACEBOOK/AOrdemDosArquivistas

www.arquivista.net/ordem

O Autor:

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Ricardo Sodré Andrade é Bacharel em Arquivologia pelo Instituto de Ciência da Informação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), mestre em Ciência da Informação (PPGCI/UFBA), doutorando em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais (UPorto e UAveiro) e Arquivista da UFBA.

Roendo #2: Sangue dos Deuses – Michel Duarte

Ficha técnica:

11823810_386110844916802_828227930_nTítulo: Sangue dos Deuses

Autor: Michel Duarte

Edição: #2

Ano: 2015

Páginas: 288

Editora: Autor Independente

Nota: 4/5

 

Impressões:

Se você gosta de porrada, esse é o livro pra você!

Longe de ser uma história mal construída, Sangue dos Deuses é o tipo de livro pra fãs de batalhas e guerras, porquê, basicamente, o livro todo é sobre isso: A guerra para evitar o fim do mundo, o Ragnarök.

Ok, tema clichê.

Mas, como diria o Capitão Azul do anime Viewtiful Joe, ou a Winnie, namorada do Pica-pau: Todas as histórias seguem uma sequência conhecida, o legal é descobrir “COMO” acontece…

E em Sangue dos Deuses, a criatividade rola solta.

11825746_2076871642451603_559866403724599997_n fotorApesar de ser uma obra extremamente bem construída, e fiel ao pé da letra a mitologia nórdica, isso não impediu o autor de ter liberdade para desenvolver os personagens de forma cativante.

Em tempos de Katniss Everdeen, Katherine Aesirson não deixa nada a desejar. Descendente da Valquíria Brunhild e do herói Siegfried, a garota é o que chamaríamos de semi-deusa latente. (Percy Jackson? Também pensei nisso ^^ ) Depois de ter sua família massacrada por Loki, a garota explosiva, de personalidade forte, que sempre defende sua opinião e tem uma quedinha por compras e roupas de grife, jura vingança ao deus da trapaça. Apesar de impulsiva e muitas vezes tola, eu gosto dela. Sim, porque tenho horror a personagens principais fracas, passivas, sem vontade própria nem personalidade, que não fazem nada ao longo da história.

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A garota de olhos azuis-celeste e cabelos louros, muito bela (clichê? Sim, mas ela é descendente de nórdicos, então faz sentido, mesmo que viva no calor escaldante da caatinga baiana) se une a Altamir ❤ príncipe dos Elfos Claros, e Erick, amigo de infância e líder por direito dos berserkers. Opa, opa, opa… O quê são Berserkers??? Na mitologia nórdica, são guerreiros leais a Odin, em Sangue dos Deuses, são uma espécie de “Lobisomens” leais ao mesmo deus. No caso de Erick, seus pais eram líderes dos Berserkers, porém, precedendo a libertação de Loki, foram assassinados por Gandr (é uma mulher que fique bem claro), serva de Loki, que fazia os preparativos para seu retorno, tornando-se assim, Alfa dos Berserkers; título que por direito, é de Erick.

Michel Duarte

Outra observação importante sobre a história é a construção dos personagens, tanto principais quanto secundários, podemos definir claramente quem é quem, e como vão agir.

O livro todo é cheio de referências ao universo Geek: Me lembrei do carro voador invisível dos Weasleys de Harry Potter quando Vili (deus caído, super importante na história) apareceu assoviando para chamar Fury, ao irem ele e Katherine ao Mercado dos Trolls. Fora, que a própria protagonista, é quem mais se utiliza de referências, quando, por exemplo, chamou Altamir de “Dobby“. Quase me acabei de rir na hora. Altamir lembra Legolas de O Senhor dos Anéis, mas nessa parte específica do livro, ele age como servo da herdeira dos deuses e ela, fica mega constrangida.

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Loki, o antagonista, detém as melhores falas:

“— Por quê? – Loki sorriu ironicamente. — Deixe-me ver: eu fui aprisionado por milhares de anos, preso em correntes forjadas a partir das entranhas de meu próprio filho, Nari, enquanto uma serpente cuspia ácido fervente em meu rosto – Loki estremeceu por alguns segundos, retirando a máscara, para que o Aesir pudesse ver seu rosto deformado, queimado em carne viva. — Não ficou muito bonito, não foi?

Vé se calou.

— Vamos ver… O que mais? Ah claro, meus filhos mais velhos foram lançados nos lugares mais distantes, nas grutas mais sombrias ou nos oceanos mais profundos, como animais! Acho que eu tenho todos os motivos do mundo para desejar vingança” (Loki para Vé, p.85)

“Monstro? ‘Por favor’… Eu passei os últimos dias absorvendo todo o conhecimento que encontra-se naquilo que vós, mortais, nomearam ‘internet’, tentando assimilar o que eu perdi nos últimos milhares de anos e eu tenho que admitir: vocês ‘humanos’ andaram ocupados: massacres durante as ‘conquistas’, destruição de civilizações inteiras com o desculpa de agir em prol da civilização daqueles povos, as grandes guerras, a bomba…Sim como poderia esquecer o ‘grande cogumelo’? Sem falar da forma com que tratam uns aos outros, permitindo que pessoas morram de fome aos milhares por dinheiro. E os Aesir me julgavam um male, ah se eles pudes sem ver como sua doce humanidade esteve ocupada… Mas imagino que eu deva agradecê-los por isso […] Vê minha querida? Eu não sou o monstro, não! Vocês são os monstros. Eu sou apenas a consequência.” ” (Loki para Katherine, p.167-168)

E o melhor, não é esse Loki que aparece no livro:

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É esse:

lokithaiÉ, eu sei, dá medo, Loki das HQs é foda. Essa imagem expressa bem os acontecimentos da obra e a manipulação indigna que ele faz com seus aliados e inimigos… não é à toa que ele é chamado de trapaceiro. Enfim, Loki é o que eu considero um vilão que, mais dá pra amar que odiar… (Por mais que ele seja filho da pu… desorrado, desonesto, etc, ou seja, super gente boa! 😀 )

Saindo um pouco dos personagens, gostei imenso, das descrições dos reinos, especialmente a de Vanaheim:

“Mas não, após apenas alguns segundos mesmo os mais ignorantes poderiam perceber as diferenças (em grande parte geradas pelos poderosos moradores daquele reino), o mais sábio saberia apreciar e o mais ganancioso veria satisfeito que ao enterrar moedas, ou mesmo ouro, no chão, uma árvore do mesmo material brotaria, quase que de imediato, pois os Vanir eram deuses da natureza, da fertilidade e da vida, e seu reino não podia ser algo, se não, o próprio reflexo de suas funções: um local onde a vida simplesmente explodia, sendo gerada espontaneamente a partir de seres inanimados, ou mesmo a partir do nada. Uma verdadeira “explosão de vida” que a tudo contagiava sendo um ser vivo ou não, animados ou inanimados, formado por matéria orgânica ou inorgânico, tão poderosa era aquela magia que tanto Altamir quanto o cervo recuperaram-se imediatamente da fadiga, como se tivessem banqueteado na noite anterior e dormido até o sol atingir o pico.” (p.202-203)

Outro ponto positivo são as letras personalizadas no início dos capítulos:

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Claro, ainda vem anexos no final como esse, explicando sobre a história mitológica até então, um anexo sobre as raças dos personagens da história: Aesir, Anões, Berserkers, Elfos Claros, Elfos Escuros, Fadas ❤ , Humanos, Gigantes, Trolls e Vanirs… Ufa! Além de um outro referente aos nove mundos de Yggdrasil para nos localizarmos melhor em meio a bagunça, e falando em localizar, também há mapas! (Realmente, O Senhor dos Anéis inspirou esse livro…)

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As notas de rodapé são úteis e ajudam a esclarecer dúvidas ❤  além de ter algumas ilustrações feitas pelo Heromachine caracterizando alguns personagens mas não sei isso esse é um ponto negativo ou positivo :/ porque para alguns, atrapalha imaginar os personagens…

Críticas:

As batalhas são o ponto alto do livro, sem dúvidas. Mas meu problema é: Como o autor cria os motivos para que ela aconteçam. Minha grande revolta, foi o discurso de Altamir para convencer os Vanir de Vanaheim a se aliarem aos Elfos Claros, Fadas, Anões e Berserkers, contra Loki, usando como motivo, uma promessa de lealdade e honra que os deuses da natureza e da fertilidade fizeram aos deuses Aesir, muito tempo atrás.

Os elementos honra, lealdade e promessas são elementos centrais do livro. E boa parte das ações dos personagens são pautadas nisso, com muita moralidade por parte dos “mocinhos” e dogmas desobedecidos pelos vilões. Quase um filme hollywoodiano dos anos 1950… onde ficam bem definidos quem é bomzinho e quem é malvado.

Ainda sobre o discurso de Altamir, pouquíssimo convincente na minha humilde opinião de pessoa cética, ele teve somente um opositor bem definido, o Carvalho Branco. É quase como se todos os Vanir estivessem compelidos a ir desde o momento que Altamir chegou, o que pra mim é algo muito pouco improvável, já que, segunda uma profecia citada na mitologia nórdica, os Vanir não seriam atingidos pelo Ragnarök, e que caberia a eles, encher novamente o galhos de Yggdrasil de vida.

“O senhor sabe que é o certo a se fazer, afinal como eu sou um carvalho e todo carvalho é guardião da sabedoria devo lembrar-lhes que as antigas profecias afirmam que nosso lar não será tocado no Ragnarök, que diferente dos passageiros deuses Aesir, nós, senhores da natureza e da fertilidade permaneceremos, pois é nossa função permanecer para mais uma vez encher Yggdrasil de vida.”(Ancião Carvalho Branco para Njörd, p.204)

Porra, se eu não vou ser afetado se ficar no meu canto neutro, por que eu vou me meter em encrenca só por causa de uma promessa feita há milênios a deuses que no momento que o pau rola solto estão oficialmente desaparecidos, ou mesmo exilados por um véu em Asgard? Colocando em risco todo o meu povo a sofrer a ira de Loki? Sendo que não ganhamos nada com isso, na verdade a tendência é perder…

Claro, porque pelo que eu conheço de lógica, só se entra em conflitos, principalmente em guerra onde sabe-se que é certo perder vidas, em dois casos: 1) Se você tiver muito a ganhar se entrar; 2)Se você estiver ameaçado a perder coisas importantes se não entrar.

Bem, eu não engoli Altamir como diplomata.

Crítica número dois: Como raios Katherine, consegue ferir Erick que treinou a vida inteira e é uma montanha de músculos, na primeira vez que lutam? Sendo que ela, nunca havia pegado numa espada na vida? E não me venham com essa de “talento latente” e “ela é uma deusa”, tinha que no mínimo ter apanhado mais, e só conseguisse tocar em Erick “o Alfa” do segundo treino (ainda estou sendo boazinha) pra frente.

No geral minhas críticas são apenas em como o autor fez pra chegar a coisas importante através de coisas banais, só porque precisava de um motivo para que acontecessem e pela linguagem utilizada no início do livro ser pouco atrativa, mas não desanimem, melhora MUITO depois da página 40.

Na segunda edição, assim como na primeira, existem muitos erros de acentuação e alinhamento de parágrafos, contudo, segundo o próprio autor, já foram resolvidos.

Observação Importante!!!

O autor publicou a primeira edição do livro pela editora Cata-vento, mas a segunda edição foi publicada de forma independente. Hoje em dia, o livro só pode ser adquirido através do próprio autor, mas relaxem, tá bem mais barato! Vem com frente incluso e ainda com lindos marcadores de página :3 ❤

Skoob: Sangue dos Deuses

Facebook: Sanguedosdeuses1

Site: escritormichelduarte.wix.com/sanguedosdeuses

O Autor:

5d03ac_0a1768f75d1d438d87a687fe7d058394Jean Michel Duarte Santana, soteropolitano, amante de História e leitor compulsivo, é estudante de Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e escritor comprometido; apesar da pouca idade já tem dois livros publicados e mais um a caminho. Desde a infância é fascinado por culturas e sociedades, tanto antigas quanto atuais, isso fez com que se voluntariasse para pesquisar documentos históricos no Memorial da Faculdade de Direito. No entanto, é na fantasia que se sente à vontade; de início estudou afundo mitologia grega, mas encontrou na nórdica a sua verdadeira paixão. Curioso e insaciável, fez dela seu tema preferido para criar histórias.

Roendo #1: A Biografia Íntima de Leopoldina – Marsilio Cassotti

Ficha Técnica:
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Título: A Biografia Íntima de Leopoldina: a imperatriz que conseguiu a independência do Brasil

Autor: Marsilio Cassotti

Tradução: Sandra Martha Dolinsky

Edição: #1

Ano: 2015

Páginas: 304

Editora: Planeta

Nota: 4/5

Em um belo sábado (especificamente dia 22 de Agosto de 2015), enquanto eu andava pela Livraria Cultura do Salvador Shopping e fuçava as prateleiras, super impaciente e ansiosa, pois aguardava meu namorado e nossa turma do RPG chegarem para que pudéssemos iniciar a nossa tradicional jogatina embaixo da escadaria (quem nunca sentou lá, não sabe o quê é emoção quando as almofadas caem em queda livre na sua cabeça! 😀 )…
Sim, eu estava impaciente, e quando fico assim, acabo comprando coisas por impulso.
O desse sábado de RPG foi o livro “A Biografia Íntima de Leopoldina”, pra quem não conhece, Leopoldina de Habsburgo, foi a primeira Imperatriz do Brasil, personagem histórica pela qual sou imensamente apaixonada.

Adquiri o exemplar por R$ 39,90. Salgado. Mas eis que é a Livraria Cultura, então, já era esperado, e como re-saliento, foi uma compra por impulso. Encontra-se o mesmo livro até mesmo por R$ 23,90, se nos dermos ao trabalho de procurar um pouco em livrarias online… mas como o frete para Salvador é um absurdo, acredito que não saí perdendo tanto.

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Comecei a ler empolgada, de início, realmente encanta, pois começa com o que parece ser uma crônica sobre a morte de Maria Antonieta, tia-avó de Leopoldina, sendo levada de carroça para a guilhotina.

Mas a literatura envolvente não dura muito.

Já mais para o meio do livro, sinto que estou diante de um trabalho acadêmico. O quê para uma estudante de direito é muito desconcertante, pois, é o que vejo dia após dia na faculdade. A beleza do romance fica nas primeiras páginas, infelizmente.

No entanto, isso não quer dizer que a obra não é interessante.

Como educar um marido - capítulo do livro biografia íntima de Leopoldina

Através do trabalho de Cassotti, descobri uma Leopoldina diferente da que sempre fui apaixonada, e me apaixonei mais. Ele retrata, de fato, “a parte íntima” da primeira Imperatriz. Seus sentimentos, o amor incondicional por sua irmã Maria Luísa (por ela simplesmente chamada de Luísa), a relação conturbada com sua outra irmã Maria Clementina, princesa de Salerno por casamento, a transformação de uma menina mimada na infância, disciplinada por dua madrasta para conter seus ataques de fúria e graças a isso, suportar com “paciência” a infidelidade do marido. O tão belo quanto ordinário Dom Pedro I (vocês perceberão que não tenho o mínimo de estima pelo primeiro imperador do Brasil, não por ele ser infiel, mas por ter caráter duvidoso, simplesmente, não consigo ser “paciente” com pessoas de caráter duvidoso 😀 ).

“É preciso ter paciência, os homens são, em todos os continentes, cópias das borboletas” (p.194)

O mais interessante do livro, é também a construção e visão dos personagens secundários da vida da Imperatriz. Isso porquê, há quase uma biografia de Napoleão Bonaparte em suas páginas, isso se justifica, pois, o “diabo” como dissera a avó materna de Leopoldina, Maria Carolina de Nápoles, acabou entrando para a família dos Habsburgos. A Monarquia mais antiga da Europa teve de suportar o casamento de Maria Luísa, a irmã mais amada por Leopoldina e a primogênita, filha preferida do Imperador da Áustria, com alguém que não detinha títulos de nascimento. Portanto, Leopoldina, passou a ser cunhada de Napoleão.

Napoleão é retratado na biografia íntima de Leopoldina

O livro termina do mesmo modo que começa: uma alusão a morte de Maria Antonieta, comparando-a com a de Leopoldina. Os três últimos capítulos foram os mais interessantes, apesar de corridos.

Talvez essa impressão de agilidade na ruína da relação de Leopoldina e Pedro devido a Marquesa de Santos, seja somente impressão. Pois, os capítulos não pecam nem pela estética, nem pelo conteúdo, nada fica mal explicado (apesar de eu ter ficado confusa com as datas referentes a 1826, pois o autor se refere “desde o final do verão de 1826” como data para o começo da última gestação da Imperatriz, no entanto, se seguirmos a lógica do hemisfério sul, o final do verão de 1826 seria em fevereiro, e portanto, a arquiduquesa da Áustria não poderia estar apenas há 3 meses grávida… sim, isso me causou confusão. Mas percebi, depois que meu tico e meu teco entraram em um acordo: o autor escreve com o pensamento seguindo a lógica das estações no hemisfério norte. Ou seja, ele não está errado, só é preciso um pouco de atenção). Talvez, a relação deles, como tantas outras, teve sua explosão devastadora, como todas aquelas que parecem calmas e terminam depois de tudo que incomodava ser finalmente dito.

Maria Antonieta na biografia íntima de Leopoldina, imperatriz do Brasil

Eu me senti profundamente irritada com as falácias de Dom Pedro I nos últimos capítulos.

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No meu fundamental 1, os livros de história caracterizavam-no como um bom governante, “libertador do Brasil”… não é de hoje que leio sobre a Monarquia brasileira e sei que isso é uma grande mentira que contam para as criancinhas, que como eu, já admiraram o lindo príncipe português, soldado, guerreiro, heroi. E pouco, ou nada sabem sobre a mulher que, verdadeiramente, fez a independência da nação, ao lado de José Bonifácio (mais o Andrada do que ela na realidade, mas não há como não admitir que essa austríaca foi uma das maiores articuladoras políticas para que hoje nos chamemos de brasileiros). O livro restrata a instabilidade do reino recém proclamado. O descrédito que o povo brasileiro passou a dar ao Imperador sob o pretexto de que ele era marionete dos Andradas, e como isso nele gerou cólera, a ponto de exilá-los na Europa. E como seus rompantes emocionais e a influencia de Domitila fez com que a corte pensasse em colocar a coroa na cabeça da pequena Maria da Glória, ou mesmo da própria Imperatriz. De como, pouco a pouco, o Imperador afastou os servidores de Leopoldina, deixando-a sozinha em meio a damas portuguesas invejosas, influenciaram negativamente na vida da arquiduquesa, como no caso de Maria Graham preceptora de suas quatro filhas.

“Segundo outro amigo dos Andrada, um mês depois da vinda ao mundo da futura duquesa de Goiás ‘os brasileiros ofereceram a Leopoldina a coroa […] alegando os interesses do país, os defeitos do imperador, que ela mesma tinha que sofrer’. Essa mesma fonte conta que a imperatriz responder: ‘Sou cristã, dedico-me inteiramente ao meu marido, aos meus filhos, e, antes de consentir com tal ato, eu me retirarei para a Áustria” (p.203)

No livro Dom Pedro I mostra-se extremamente instável, com rompantes de fúria, tal qual Leopoldina, no entanto, ele não teve Maria Ludovica de Habsburgo-Este para discipliná-lo. Como príncipe da Beira, e depois Imperador do Brasil, tinha todas as suas vontades atendidas, como Leopoldina escreveria a condessa Lazansky, sobre as preocupações referentes a sua filha Maria da Glória, recém aclamada rainha de Portugal:

“Infelizmente, temo muito por ela, pois na história dos regentes acha-se tudo bom, seja bom ou ruim” (p.235)

Leopoldina, morre, sozinha, no Rio, de uma febre que lhe causou um aborto. Deixando o pequeno Dom Pedro de Alcântara, futuro Imperador do Brasil, com apenas 1 ano de idade.

Foram, nove anos no Brasil, sete gestações, cinco filhos, e um amor não correspondido.

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Enquanto isso, Dom Pedro I foi para a guerra da Cisplatina, na tentativa falha de recuperar na guerra o seu prestígio para com o povo, perdido no destrato com sua esposa…

“Nós, pobres princesas, somos como dados cuja sorte se joga e cujo destino depende do resultado. Dirás que sou uma verdadeira filósofa, mas o fogo da juventude se apaga facilmente quando as pessoas se tornam prudentes por experiência própria” (Leopoldina à Luísa p.241)

Biografia da Imperatriz do Brasil, Maria Leopoldina

P.S.: Sobre a parte ilustrada do livro: Linda! Porém as legendas me decepcionaram, são apenas quotes do livro, isso me causou um certo tédio; esperava informação nova para dar um ar de vivacidade as imagens.

Maria Teresa de Habsbugo, a Grande. Em A biografia íntima de Leopoldina

O livro também disponibiliza, ao seu final, a árvore genealógica de Leopoldina, bibliografia utilizada para a construção do trabalho, uma lista de personagens ordenada pelo momento em que aparecem na narrativa, e finalmente as notas, que durante toda a obra se fazem presentes (não que elas sejam muito explicativas, a grande maioria é para destacar e dar crédito ao autor citado).

Apenas lembrando: o livro é baseado nas cartas que a Imperatriz enviou para parentes e amigos durante sua vida.

P.S.1: Ainda sobre o preço salgado que paguei: quase infartei quando eu vi essa oferta! (31/Ago/2015)

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